domingo, 19 de junho de 2016

EJA - Educação de Jovens e Adultos



Artigo: O CONTEXTO LATINO-AMERICANO E AS FUNÇÕES DESEMPENHADAS PELA EPJA 

Autor: Maria Clara de Pierro

       No final do milênio, ouve uma redução dos índices de natalidade impulsionada pela mudança nos papéis desempenhados pelas mulheres na sociedade e na família, combinada à elevação da expectativa de vida, modificou o perfil de idade da população, com tendência ao predomínio dos adultos na população da maioria dos países da região. Esse novo perfil etário, combinado ao processo de redefinição da posição social das mulheres, tem importantes repercussões sobre a configuração das famílias, do mercado de trabalho e da demanda por serviços sociais como a saúde, educação e previdência social



  • Peru: escolaridade média dos jovens e adultos varia segundo o local de moradia (10 anos de estudos na zona urbana e 6,6 anos na zona rural), e a condição socioeconômica dos indivíduos (10 anos de estudos entre os não pobres, 8,4 anos entre os pobres e 6 anos entre os que se encontram em pobreza extrema).
  • El Salvador: a população urbana alcança 6,9 anos de estudos, enquanto na zona rural não supera 3,7 anos de escolaridade. 
  • Brasil: onde o analfabetismo varia de 22,4% na região Nordeste a 6,2% na região Sul, e o analfabetismo rural alcançam 26,2% enquanto o urbano é de 8,7%, o pertencimento étnico-racial é importante fator de desigualdade educativa: a taxa de analfabetismo entre os brancos é de 7,1%, elevando-se a 16% entre os afrodescendentes.
  • México: a proporção de indígenas na população se combina a desigualdades socioeconômicas de modo a produzir variações nas taxas de analfabetismo das entidades da Federação de níveis próximos a 20% em Chiapas, Guerrero e Oaxaca, e taxas em torno de 5% em Chihuahua e Jalisco.  
  • Equador: a taxa de analfabetismo entre os indígenas é de 28%, enquanto o índice médio nacional é 9%.
  • Colômbia: onde a taxa média de analfabetismo é de 7,9%, essa proporção se eleva a 13% entre os afro-colombianos e 17,7% entre os grupos indígenas.
A INFLUÊNCIA DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS NA DEFINIÇÃO DA AGENDA DA EPJA 

     No último quarto de século, as concepções e as políticas de EPJA dos países da América Latina e Caribe sofreram influência de numerosas iniciativas internacionais e regionais concorrentes ou pouco articuladas entre si. No período mais recente, o tema da alfabetização de adultos (que historicamente constituiu um campo de disputa de discursos político-pedagógico e representações simbólicas sobre as relações entre a educação e outros âmbitos da vida social) voltou a ocupar lugar destacado na pauta das agências internacionais de cooperação. 
      A declaração da Década das Nações Unidas para a Alfabetização (2003-2012) corroborou na proliferação de iniciativas internacionais, com destaque para LIFE 2005-2015 (Literacy Iniciative For Empowerment), lançada pela Divisão de Educação Básica da UNESCO com apoio da primeira dama norte-americana Laura Bush, que em sua primeira etapa compreende um país do Caribe13.
     Na região, onde se estima existam 39 milhões de analfabetos e 110 milhões de jovens e adultos com escolaridade reduzida e de má qualidade, encontra-se também em fase final de elaboração o Plano Ibero Americano de Alfabetização e Educação Básica de Adultos 2008-2015, coordenado pela Organização dos Estados Iberoamericanos (OEI). 
    As redes e organizações da sociedade civil engajadas em esforços de alfabetização e educação de jovens e adultos são igualmente reticentes com respeito a essas iniciativas. 
Em um estudo intitulado “Corrigir os erros”, ativistas em prol da educação criticam o reduzido investimento realizado na alfabetização de adultos e propõem um conjunto de diretrizes para conferir eficácia às políticas e práticas desse campo (Archer, 2006). 
   Esses atores críticos recomendam especial atenção à equidade de gênero e à diversidade cultural e linguística em processos integrais, contextualizados e flexíveis de alfabetização e educação básica que vinculem a aprendizagem e desenvolvimento da leitura, escrita e cálculo (compreendidos como processos continuados de inserção na cultura letrada) a outras dimensões da vida adulta em comunidade, como a subsistência econômica, a saúde e a participação cidadã.

AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDJA NA AMÉRICA LATINA E CARIBE: CONTINUIDADE E RUPTURAS

    As políticas públicas recentes de EPJA desenvolvidas na quase totalidade dos países da América Latina e Caribe se inscrevem no marco comum das demais políticas sociais desenvolvidas pelos governos da região em contexto de ajuste macroeconômico e reforma do papel do Estado sob orientação neoliberal, subordinando-se às diretrizes de restrição do gasto público, descentralização, focalização e privatização. 
     Nessa conjuntura, as reformas educativas por meio das quais os países da região procuraram afrontar, a partir de meados dos anos 90, os novos desafios da economia e cultura globalizados, priorizaram atenção e recursos na escolarização elementar de crianças e adolescentes, o que colocou a EPJA em uma posição marginal no discurso pedagógico e na agenda das políticas públicas, ocasionando perdas de hierarquia e especificidade.

                                    VIZINHOS DISTANTES: CUBA E HAITI 

    Dois pequenos países insulares localizados no Caribe - Cuba e Haiti – são exceções às tendências dominantes na configuração das políticas de EPJA na região e representam seus casos extremos. Enquanto Cuba praticamente extinguiu o analfabetismo e garantiu 9,5 anos de escolaridade média à população com idade superior a 15 anos, o Haiti – em que mais da metade da população vive em situação de pobreza extrema - apresenta uma taxa de analfabetismo juvenil e adulto em torno de 49% e o orçamento destinado à alfabetização mal cobre os salários dos funcionários responsáveis pela administração governamental do setor. 
     A persistente e bem sucedida política cubana de EPJA é impulsiona pelo governo central, mas entendida como elemento de uma sociedade educadora. Teve início há 45 anos com uma ampla campanha de alfabetização, seguida de sucessivos impulsos pela elevação da escolaridade da população até a conclusão dos nove anos de escolaridade básica. 
      Hoje, conta com mais de oito mil docentes formados e 3% do gasto público em educação para levar adiante uma gama diversa de programas de formação geral, profissional, aprendizagem de idiomas e ensino superior. 
     Dentre os programas recentes, destacam-se: a oferta de ensino médio flexível e subsídio financeiro a jovens de 17 a 29 anos que não concluíram estudos e se encontram sem trabalho; um programa de formação profissional destinado à “conversão” de cem mil trabalhadores desempregados pelo declínio da agroindústria canavieira; e uma cátedra universitária para idosos.
      Moldado por uma história de instabilidade política, violência e profunda desigualdade na distribuição da riqueza, o Estado haitiano tem sido incapaz de assegurar o direito à educação (previsto na Constituição), o que faz com que o setor privado controle, hoje, 80% dos serviços escolares (quase sempre ministrados em francês), aos quais têm acesso apenas uma pequena parcela da elite ou da classe média urbana. A ausência de um sistema educativo público acessível às camadas populares do campo e da cidade (cuja língua materna é o créole, reconhecido como língua de educação escolar desde 1980) anula os esforços empreendidos ao longo do último século em dez sucessivas campanhas de alfabetização de jovens e adultos.

     RELAÇÕES ENTRE O ESTADO E A SOCIEDADE CIVIL NA PROMOÇÃO DA EPJA 

     Devido à condição socioeconômica da maioria dos destinatários, a EPJA não configura um mercado atraente para o setor privado com fins lucrativos, cuja participação na matrícula é reduzida e bastante concentrada no ensino médio e técnico-profissional. O peso da provisão do serviço educativo recai, portanto, sobre o poder público e as instituições sem fins de lucro. 


                          O NÓ CRÍTICO DA FORMAÇÃO DE EDUCADORES

      O estudo regional desvela que uma das grandes debilidades da EPJA na América Latina e no Caribe é a escassez de sistemas de formação inicial e de aperfeiçoamento de educadores. Apenas em Cuba e no Uruguai os educadores de adultos são necessariamente profissionais. O recurso a educadores 16 improvisados, por sua vez, faz com que a atividade tenha escasso reconhecimento social, legitimando precárias condições de trabalho e remuneração.
      A posição marginal da EPJA nas políticas e sistemas educacionais dificulta ainda mais a conformação de um campo de trabalho profissional específico, Cuba é uma rara exceção, graças à extensa rede de educação superior pedagógica descentralizada. A maior parte dos informes nacionais declara que, simplesmente, não há processos sistemáticos de formação desses educadores. 
     Nas redes públicas de ensino, são os mesmos docentes que trabalham com crianças, adolescentes, jovens e adultos, muitas vezes reproduzindo metodologias, currículos e materiais de ensino inadequados. Na falta de educadores formados para atuar na modalidade, impõe-se a formação em serviço.

                                        SILÊNCIOS ELOQÜENTES 

    A pesquisa regional também revela que as políticas de EPJA não incorporaram uma cultura de avaliação: os estudos avaliativos são raros, de modo que o impacto dos programas e projetos pode apenas ser inferido a partir de indicadores tais como a matrícula. 
   O conhecimento sobre a EPJA na região é limitado, também, pela reduzida presença do tema nas universidades e a escassez de pesquisas sobre suas múltiplas dimensões. 

                                DE UMA EPJA MAIS RELEVANTE 

     Os intentos mais significativos de articulação inter-setorial de políticas de EPJA são de dois tipos. Um primeiro tipo enfatiza a promoção social e compreende os programas destinados a populações em situação de pobreza e risco social em que a adesão a programas de alfabetização, elevação de escolaridade ou capacitação para o trabalho são contrapartidas de transferências de renda mínima, de que são exemplos a Missión Vuelvan Caras da Venezuela, o Plan Jefes y Jefas de Hogar Desocupados na Argentina e o Plan de Superación Integral para Jóvenes que no Trabajan ni Estudian de Cuba. 
   Um segundo tipo reúne os programas que, visando satisfazer as múltiplas necessidades de aprendizagem dos jovens e adultos, favorecem o acesso a um currículo enriquecido e flexível, articulando em um marco socioeducativo integral a formação geral, a capacitação para o trabalho a outros conteúdos, valores e habilidades relevantes (saúde, relações de gênero, interculturalidade, acesso às novas tecnologias, etc.), tais como o Modelo de Educación para la Vida y el Trabajo (MEVyT), desenvolvido no México, e o programa chileno Chilecalifica.

Artigo: MARCO INSTITUCIONAL DE INSTITUTO NACIONAL PARA LA EDUCACIÓN DE LOS ADULTOS (INEA) 

Autor: Mileth Romero Rodriguez Criada em agosto de 1981 durante o governo do presidente José Lópes Portillo, cujo objetivo era proporcionar gratuitamente um serviço de formação educacional de qualidade. Em 2015 o objetivo era de atender 7,5 milhões de mexicanos, com 60 mil voluntários capacitados, sendo 1,5 milhões atendidos em Janeiro de 2015. 
  • Missão: “Somos uma instituição pública que promove e desenvolve serviços de alfabetização, educação primária e secundaria para que jovens e adultos incrementem suas capacidades, elevem sua qualidade de vida e contribuam para a construção de um país melhor.” (INEA, 2014) 
  • Visão: “Que a sociedade, a nível nacional, tenha como parâmetro educativo mínimo, a educação básica, gerando confiança e credibilidade na educação para adultos.” (INEA, 2014) 
  • Objetivos: 
  1.  Oferecer serviços educativos para o desenvolvimento de pessoas a partir de uma perspectiva de formação permanece para a vida e trabalho, 
  2.  Alfabetização de adultos para a conclusão da formação primária e secundaria, o Pesquisar sobre educação para adultos, 
  3. Oferecer material didático o Formar voluntários, 
  4. Certificar o Apoiar empresas e instituições parceiras, Em cada estado mexicano, há um instituto ou delegacia do INEA para a alfabetização, formação primária, secundária, formação para o trabalho e educação permanente. 
  5. Oferece serviços educativos, material didático (impresso ou eletrônico), assessoria educativa, serviços de documentação e certificação, e uso dos espaços comunitários.